quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O tempo

Tempo é uma palavra que infelizmente não está participando do meu vocabulário freqüentemente. Não tenho mais tempo para escrever, para ficar sozinha, muito menos tempo para ficar em paz. Existem pessoas que contabilizam meu tempo, que o possuem - ou pelo menos acham que o possuem - e que fazem o que bem entendem com ele. Porém, como o nosso mundo dá voltas, e essas voltas mudam completamente as circunstâncias, quaisquer que sejam elas.

Espero muito ter o meu tempo, ser dona do meu tempo, e assim manipular minha própria vida, sem a interferência de terceiros.

Peço desculpas a todos os visitantes, que tão carinhosamente postam os comentários em meu blog pretencioso, pois não tenho respondido.

E peço também que, ainda que não atualize periodicamente, visitem meus espaço.

Muito obrigada, e até breve.

Dias melhores virão.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Moralismo Barato - de volta a 1984

Bestas moralistas que atrapalham o progresso de uma mente sonhadora e cheia de planos por caprichos egoístas. Mentiras contadas até a exaustão, e tornam-se verdades para alimentar a sensação de posse que pensam exercer sobre alguém.

Moralismo barato e completamente falido, 'faça o que digo', quando o que fazem contradiz todo o discurso. Então, quando cai por terra tudo que foi dito, inventam uma nova verdade para ser posta em vigência, até que - sussecivamente - a mesma verdade torna-se vencida.

Manipulam como se fossem marionetes a vida de uma pessoa até destruirem suas esperanças - o verdadeiro intuito, matar qualquer possibilidade de progresso. O progresso é uma ameaça, a mente é uma ameaça que felizmente não poderá ser violada. Portanto, até onde houver o pensamento, até onde for possível pensar as tentativas castradoras são completamente inúteis.

Tentem imbecis, mas não conseguirão matar o pensamento, matar a consciência. O arrependimento será tardio quando perderem a posse e o mais importante: o respeito.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mercenários

As mãos trêmulas, os olhos vermelhos se quer conseguem disfarçar sua ansiedade. Se pudessem venderiam seus rins, seus pulmões, carne, nervos; seus filhos. Nada tem valor comparado ao vil metal!

A alma tem um preço, porém simbólico e místico; se houvesse maneira de vendê-la o teriam feito desde o príncipio de suas vidas miseráveis. O que importa mais que o capital? O que importa mais que o cheiro podre dessa matéria sem dono, volúvel e infiel, que corrompe até o mais gentil e destrói até a mais firme convicção?

Esses mercenários vadios e imundos, que vendem até mesmo a própria filha em troca de um genro que ganha mais que toda a renda de sua família junta, somente pela palavra insistente e cretina chamada "segurança". Qual segurança, seus mercenários? Segurança de que a filha usada terá uma casa confortável, empregados e uma vida vazia e fútil, pois havia jogado todo o seu futuro no lixo em prol de uma causa que pensava ser sua, que um dia cogitou a possibilidade de estar correta e que um dia achou que sua vida seria resumida em jantares elitizados com um grupo de pessoas completamente vazias, com seus bolsos transbordando de dinheiro, e suas bocas transbordando de fezes.

Mercenários cruéis, somente o universo que gira em torno de seus umbigos importa, pois passam por cima de qualquer um para atingirem seus objetivos. Não têm capacidade de lutar pelos seus idéais e querem transformar a vida daqueles que lhes estão próximos num verdadeiro inferno somente para satisfazer os seus desejos vigaristas. Penso que a morte seria uma boa alternativa, porém são tão infames que se quer a terra lhes absorvirá as entranhas, se quer os vermes lhes roerão a carne.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Viagens psicodélicas de Marie - a tartaruga e as escadas

- Não estou com sono mãe! - grita a pequena Marie quando vê que é obrigada a dormir.
- Marie não comece com suas reclamações! Já está na hora de criança estar dormindo, quando for grande poderá decidir sobre seus horários - e fechou a porta. A mãe esquecera que Marie tinha medo de escuro, mas ela estava tão chateada de ter que dormir cedo que esqueceu também... só lembrou depois que sentiu alguém puxando sua coberta.
- Ahhhh! - berrou a menina - páre com isso, Mãaanhêeee!!! ninguém ouviu seu clamor. Num estalo de coragem, abre os olhos antes apertados de medo e vê o que está puxando sua coberta. Era uma tartaruga. Uma tartaruga puxando a coberta da menina, no meio da noite. Tartarugas não puxam cobertas. Pelo menos era isso que Marie pensava até então. Estava num misto de surpresa e medo, de alegria e pavor. Não tinha medo de tartarugas, mas quem a trouxe? Como escalou sua janela?
- Pare de pensar menina, está me deixando enjoada - disse a tartaruga.
- Você fala! Não, estou sonhando, só posso estar. Ahhhhh - beliscou-se para ver se estava sonhando - oh não! Você fala, você puxou minha coberta. O que você quer? De onde você veio, e o que tem nessa mochila? - a tartaruga trazia uma mochila parecida com aquelas que usam os alpinistas. Nada mais estranho que uma tartaruga falante carregando uma mochila. Marie decidiu chegar mais perto dela. Já que era inevitável a sua presença, pelo menos fosse agradável.
- Qual o seu nome, tartaruga? - perguntou a menina.
- Chamo-me Estela, e o seu menina pensandora? - a tartaruga se incomodava pelo fato de a menina estar sempre pensando, porém como sabia ela o que a menina pensava? Mistérios leitor, nada mais que isso.
- Meu nome é Marie. O seu nome é muito bonito - disse a menina para que a amizade fosse logo adiantada.
- Com certeza, melhor que Marie!
- Ah sua tartaruga atrevida! Eu te elogio e você me recebe a pedradas? Ainda incomoda meu sono puxando minha coberta. Vou jogá-la pela janela! - quando Marie foi para pegar Estela pelo casco, ela mais rápido que um foguete tirou de sua bolsa uma bolinha e arremçou na cabeça da menina. A bolinha estava cheia com um líquido azul florescente, e como mágica fez a menina desmaiar.
Marie abre os olhos, está sozinha sentada numa escada. Um pouco tonta ainda, não consegue perceber aonde está. Esfrega os olhos e tenta novamente olhar e leva um susto: está no meio do nada, não sabia se era o universo, outro planeta, se estava morta. O que havia no local eram muitas escadas que possivelmente levariam a caminhos diferentes e talvez tão confusos quanto as mesmas, pois se entrelaçavam, subia e desciam sem cerimônia, os degraus eram confusos, não obedeciam a nenhuma ordem. Aliás, nada ali obecia a ordem nenhuma.
- Tem alguém aí? - grita a menina num instante de pavor. Nada.
- Tem Alguém AÍIIIIIIIIII? - grita mais alto, porém com a mesma conclusão. Para não fugir ao costume Marie começa a chorar. Nada mais justo depois de ter sido mandada para um lugar no qual a única coisa que existe são escadas completamente confusas. Depois do pranto, Marie decide subir alguma dessas escadas, pois já que está presa ali então que fosse aproveitado.
- Agora resta saber por qual dessas subir... pensava a menina. Cada escada tinha uma cor, uma era azul, a outra vermelha. Tinha algumas que misturavam uma, duas e mais cores. Decidiu ir pela mais colorida.
- O caminho pode variar com a cor - é menina pode ser sim, e poder ser também que fizeste uma boa escolha. A escada que Marie escolheu por subir era enumerada. Começava no início, o um, e terminava no vinte e um. Não me perguntem o porque de terminar no vinte e um. E cada degrau era marcado por datas, anos para ser mais preciso. No degrau de número um era marcado pelo ano atual, e cada vez que os números cresciam os anos decresciam.
Marie subia lentamente apreciando as cores dos degraus, e chegando numa certa altura percebeu algo muito estranho porém interessante: a cada degrau ela ficava mais velha. Não era de uma maneira organizada, mas a idade passava conforme subia, e quando chegou no topo era já uma mulher. O ano marcado pelo degrau número 21 era 1970. Ao descer viu uma aglomeração de jovens, todos com suas barracas montadas. Era uma festa? Marie não sabia, mas tinha aparência de ser uma grande festa.
Sentou-se num lugar perto de uns jovens, e logo fez amizade. Ofereceram-lhe algo parecido com cigarro e Marie experimentou, claro. Adorou por sinal, e logo virou amiga de infância de todos eles. Estava de camisola, mas quando a noite chegou e ela ouviu alguém cantando sobre o fim - "this is the end (...)"- parecia ter entrado num transe, com aquelas palavras com um poder quase mágico e entorpecente, e de repente viu-se nua. Sim, a menina agora uma mulher estava nua em plena multidão, o que era mais que normal naquele lugar. Dentro de sua mente apareciam cores, imagens sem nexo, e a música era o combustível para essa alucinação. Arrastaram-na para dentro da barraca, onde acontecia algo nunca vivido pela "menina". Como nada sabia, deixou-se levar. Não sabia mais quem era quem, pois todos haviam se misturado. O corpo dela uniu-se ao de mais três, as línguas não sabia de quem era, as mãos se confundiam, os corpos num ataque frenético de prazer. A música agora era o que entorpecia e alimentava aquela orgia. Não se sabia a que horas acabaria, o tempo não importava.
O dia nasceu e Marie despertou. Estava em sua cama, dormindo em seu quarto. Estela olhava para a menina com um sorriso malicioso estampado na face, e antes que pudesse ser vista saiu pela janela - a tartaruga era de uma agilidade fenomenal. Marie viu Estela fugindo mas não pôde detê-la, porém deixou cair no chão a mesma bolinha azul, aliás outra pois aquela havia sido quebrada na cabeça da menina manchando o tapete, o que era a prova de que tudo não foi um sonho.
- Vou guardar isso - a menina sabia o porquê. Marie simplesmente mudara, não era mais a mesma menina de 10 anos de idade. Em seus olhos havia algo que se alguém soubesse decifrar saberia tudo - eu disse tudo.
Saiu do quarto, deu bom dia aos seus pais e tomou seu café, tudo da maneira mais natural possível. Seu pai ainda estava em casa, então a menina pediu que a mostrasse onde guardava aqueles discos que ouvia quando jovem. O pai ainda que exitante disse onde ficava. Marie mais que depressa foi vasculhar as velharias de seu pai. Desempoeirou a vitrola e os vinis, sentou-se numa poltrona que havia no porão e da rua se ouvia o refrão: "This is the end (...)".

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Resíduos

Ainda sinto as mesmas paranóias de quando estava acorrentada. Os mesmos medos quando o vejo novamente, a mesma necessidade de se esconder, de omitir todos os atos e pensamentos. Você me fez muito mal, ainda que pense que a desgraçada fui eu; na verdade concordo quando lembro das lágrimas por você derramadas, sinto que foram totalmente desnecessárias, lágrimas estas provocadas pela imaturidade de uma pessoa que precisava naquele momento ser um pouco imatura. É normal, todos são, não posso ultrapassar uma parte de minha vida só para satisfazer suas expectativas.

Nunca disse que seria imutável como a rocha, que teria uma vontade inquebrantável, que a palavra metamorfose não existia para mim. As mudanças vieram, as pessoas mudam é inevitável. Antes eu era um alguém construindo seus alicerces, seus pensamentos e sua conduta. Sinto muito em dizer que a intolerância nos separou, a sua intolerância. A maneira fatal como trata as coisas não é a verdade absoluta. Suas convicções não sãos leis, a maleabilidade é necessária em alguns casos, e desde o princípio isso não ocorreu. Quem sabe minha inadinplência não foi o resultado de sua essência repressora. Você sabe que o medo sempre me acompanhou, um medo que nunca poderia existir; o medo de você.

Agora sofro, ainda que tenha decidido por mim, por lutar pela minha liberdade, sinto sua falta. A saudade às vezes bate e quando vem traz as lembranças, o arrependimento, o remorso. Sei que não sou a pessoa perfeita. Antigamente eu tentava - sem sucesso - mas agora não busco a perfeição, ela não me importa mais. Vendo as fotos antigas, não pela sua idade, pois ainda são recentes, sinto as lágrimas caírem sem querer, ou na verdade eu queira que elas caiam para que possa aliviar a dor. Essa dor maldita e traiçoeira, que aparece nos momentos mais inoportunos, destruindo as alegrias, os sorrisos sendo substituídos pelo silêncio. Tudo isso causado pelos resíduos dessa relação fracassada. As tatuagens que deixou em mim talvez sempre me acompanharão, junto também com os momentos felizes, com o remorso inevitável.

Não nego nada do que foi bom, porém não quero mudar para poder ter o que foi bom de volta, pois sendo assim nessas condições, não quero. Prefiro sofrer durante um tempo, não sei quanto tempo, enfim, prefiro sofrer a mudar minha essência por sua causa. Gostaria que você soubesse que essa condição também se aplica a você. A perfeição está distante disso que você é, uma pessoa demasiadamente intolerante até mesmo com alguém que você disse que amava. O amor basta, as diferenças não importam. O que importa em qualquer relação é a companhia da pessoa amada, o apoio, o ombro quando se precisa, o auxílio, a palavra. As diferenças não importam a ninguém, pois quem ama não vê as diferenças. Aliás, o que seria de todos nós se fôssemos iguais? Não quero o perdão pelo o que cometi, prefiro ficar distante. Você simplesmente causou mau à mim, assim como eu também o fiz com você.

Não quero as suas preocupações, não preciso de nada. Se precisar, com certeza terei a decência de não recorrer a você. A amizade que existia entre nós pode continuar, desde que esqueça de qualquer obrigação e sentimento de posse em relação a mim. Quero somente que tudo corra bem, que a vida continue e que você seja feliz, ainda que eu sofra com isso. Vou sofrer sim, mas não quero nada de volta.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Terça-feira Santa

Não sejamos somente de sextas-feiras santas, a santidade é inerente a qualquer dia, seja uma quarta, uma quinta, uma terça-feira santa.

Terça-feira santa; santo conhaque, santa cerveja, santo vinho, santo cigarro. Palavras antes não ditas, ou ditas e não lembradas. Atitudes impensadas, impulsivas, aceleradas pelo glorioso álcool!
Oh álcool, que domina minha mente - como dizia o poeta - que transforma qualquer mal entendido em algo muito bem pensado. Que embebeda, que altera, que destrói, que mata... que me faz feliz.

Fumaça, santa fumaça embreagada, cortina etérea que entorpece e encanta, que faz viajar, pirar, enlouquecer. Fumaça bandida e traidora, pois sei que um dia darei em troca meus pulmões, minha laringe, meu cerébro, meus dentes, meu filho que nascerá morto. Porém enquanto esse dia não chega, vamos nos encantar com esse sopro de nicotina.

Mãos, línguas, braços, como uma mistura louca e lasciva. O perigo meu bem, o perigo é algo excitante, por que não? "Why not"? Dane-se o amanhã, o depois; quero agora, já, nesse momento que se passa, mesmo que clandestino, escondido, mascarado, omitido. Não ligo mais meu bem, não me importa se a mentira é uma velha sem dentes que cheira à fezes, se for o caso eu como essa velha assim mesmo.

Oh, ofendi sua digníssima pessoa com minhas palavras imundas? Hiprocrisia não cabe nesse momento. Imundices à parte nada é teatro, tudo é vivido meu bem, não se queixe de minhas palavras arrogantes. Deixe que essa mortalha de moralismos caia e liberte sua persona, sua verdadeira face, ainda que torta e cheia de defeitos. Meu bem, os defeitos são o tempero de qualquer personalidade; não quero a generosidade, a bondade, a pureza. Quero a crueldade, a maldade e a devassidão!

Por hoje chega, a terça-feira santa é finita, ficou para trás. Agora é só uma lembrança que vem à tona na manhã dessa quarta-feira, que pode ser um dia qualquer ou tornar-se uma quarta-feira santa!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vícios

Acordo, olho pela janela e vejo sol, brilhando e contaminando tudo com sua energia irritantemente alegre. O dia começa lá fora, as pessoas com suas vidinhas medíocres, descontentes com seus empregos e tentando manter a ordem aparente. E eu, com uma dor de cabeça imensa e o mau-humor ao meu lado. Gostaria de dormir até as dezoito horas, acordar e fumar um cigarro, tomar um banho, colocar a roupa mais decadente e ir ao primeiro bar contribuir para minha insanidade mental. Porém não posso. Tenho que levantar, dar bom dia aos meus pais, tomar um banho - graças à Deus - colocar uma roupinha bonitinha e esconder minha verdadeira identidade por causa de um salário mínimo. Estou contente com isso... preciso estar.

À noite, vou "estudar". Quebro a primeira esquina e vou ao bar, beber, fumar e encontrar as pessoas que realmente importam em minha vida. Conversas entorpecidas por algumas cervejas, os cigarros acesos, as risadas... depois o vinho. Mas não, estou assistindo a uma aula de não sei o quê, com um professor completamente sem vontade de ensinar e alunos completamente sem vontade de aprender. Onde estou afinal? Físicamente estou num carro ébrio como os próprios passageiros, discutindo pessimismos e decadências, bebendo de um vinho que não sei se quer a sua marca - se é que isso importa - fumando os últimos cigarros e desejando que pudesse pelo menos morrer para não ter que voltar à realidade. Porém, durante todo esse percurso, minha mente não pára de contar os minutos para chegar num horário em que dê tempo de lavar as mãos parta tirar o cheiro de cigarro, passar o batom novamente e melhorar o hálito de vinho e cigarro com um halls.

Tudo deu certo, voltei para casa. Minha cara de sono misturada com embriaguez denuncia até a um cachorro que não houve aula fezes nenhuma, porém não aos meus pais. Não sei se sou uma pessoa muito fria por não sentir remorso pelas mentiras, mas quem não mente? Gostaria que não precisasse atuar, mas não há outra maneira. O sono vem logo e os remorsos se vão substituídos por sonhos dos quais não me recordo. No dia seguinte levanto com a mesma sensação, de olhar pela janela e ver o dia sorrir, quando na verdade gostaria de estar bebendo e chorando.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O Jogo

O jogo começou.
Dois olhos se cruzam,
Duas mentes se unem e surge a intenção,
A pretensão, a vontade de pertencer,
A posse, a submissão.

O jogo começou, foi dada a largada.
A saliva, a língua, os lábios,
As mãos, os toques, os lençóis.
O cérebro submete-se à paixão.

A razão subjugada ao instinto,
O sufocante ciúme, a posse,
Brigas, desentendimentos,
Lágrimas, arrependimentos.

O jogo acabou.

A louca - Augusto dos Anjos

Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d'amor misterioso
- O segredo dum peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraça estulta.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lobo

Você mostrou a sua verdadeira face,

Deixou cair a sua máscara de bondade.

A sua fantasia de cordeiro se desfez,

Agora você é o lobo.

Não queira mais mentir.

Não seja mais patético,

Assuma a sua condição miserável de animal imundo

Que perde a razão em função dos instintos,

Ferindo sentimentos alheios sem nenhum escrúpulo.

Tornou imundo o meu corpo,

A minha mente inundada de pensamentos,

Idéias, mágoas e ressentimentos.

Vejo então a sua verdadeira face,

Você é o lobo.

Tentativa inútil de tornar-se vítima,

Vestindo uma dor hipócrita,

Implantando culpa e arrependimentos.

Invertendo os papéis,

Tomando o lugar da vítima inocente,

Sem vergonha alguma, sem consciência.

Não me coloque como vilã,

A sua tristeza é tão falsa como uma cobra.

Oportunista, aproveitador de sentimentos alheios,

Agora vejo que errei.

Arrependo-me do dia em que pensei,

Inocentemente, você ser especial.

Mas na verdade, você é o lobo.


Dedicado a uma pessoa que conseguiu fazer nascer em mim um ódio mortal. Tenho pena, pois mal sabe o idiota que sou uma pessoa de extremos. Não existe para mim um amor que não seja arrebatador, ou ódio que não seja mortal e cruel.
"Querido, quando sou boa, sou ótima. Porém má sou muito melhor".

A verdadeira face da ilusão

A ilusão é tão docemente impiedosa que é difícil saber distinguir o real do imaginário; a verdade da mentira. Mas em certas ocasiões, a verdade está tão despida que é impossível iludir-se, a menos que seja proposital. A menos que você compre a sua própria ilusão, criando em torno de algo uma alegoria, uma fantasia para encobrir a verdade que é tão dura. Parem de pensar serem vítimas por terem sido enganados. A ilusão é gratuita, só se deixa embalar pela música banal da ilusão quem realmente quer.

É maravilhoso se deixar seduzir pela mentira lasciva e sensual, cair de peito aberto no precipício das emoções e pensar viver num mundo cor-de-rosa; pensar que é amado, que é correspondido. Onde existe realmente esse amor, a não ser o puro desejo repentino, ardente e explosivo? Onde foi criado esse amor, que nada mais é (no caso, foi) uma histeria de emoções, que agora é finito, ou pelo menos não atende mais aos interesses vigentes?

Não existe amor, nunca existiu, nem se quer o seu oposto. Apenas um sentimento carnal, que agora é traduzido como uma amizade, até que os hormônios falem mais alto novamente e tragam de volta as emoções confusas e histéricas. A ilusão nesse caso nada mais é do que a confusão que se dá entre o amor e o desejo. A carência atropela a razão fazendo com que se esqueça do bom senso e passe a não ver as coisas como realmente são.

O sofrimento é totalmente opicional, escolhe-se por sofrer. A ilusão é igualmente gratuita, deixa-se levar quem realmente quer. É um jogo onde tudo ocorre por conta e risco do jogador, os mais espertos manipulam os mais vulneráveis. Existem armadilhas, onde escolhe-se cair. Não existem vítimas inocentes, assina-se um contrato com as aparências e o resultado são lágrimas e cinzeiros cheios, tudo anteriormente discriminado no contrato.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Alma velha, corpo jovem.

Nascida a pouco mais de 20 anos atrás, sinto que já cumpri minha missão. Carrego um fardo em minhas costas que demonstra o quão velha estou, mesmo tendo o frescor da primavera em meu rosto. Não peço que a morte venha rápido, pois penso que não tardará. Peço somente um pouco mais de tempo, este que me é curto e breve.

Viver, como é bom viver... temo não ter tempo suficiente para isso. Precocemente amadurecida, tomei atitudes das quais poderia adiar, adiei o papel que a própria natureza ia fazer com calma e tranqüilidade pelo simples fato de temer não ter mais tempo. A falta de tempo me persegue. A sencação de vida breve me apavora, pois sinto a idade - ainda que pouca - pesar.

Poderia ter mais calma, mas a ansiedade é constante. Deveria não me preocupar com assuntos que ainda não cabiam a mim em certos momentos, poderia ter aproveitado melhor a vida no seu tempo. Mas o tempo me falta, o tempo me é breve. Preciso viver, o mais rápido possível, pois sinto que não posso desperdiçar.

Tento viver intensamente, ainda que me perca em meus devaneios pensando em minha morte; não quero piedade, nem fico imersa na eterna lamentação, mas a vida me cobra rapidez. Vivo no limite de minhas possibilidades, quero sempre mais e mais rápido. Temo sim pela minha hora, mas não posso esquecer de que preciso fazer valer a pena. E estou tentando fazer.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Versos Íntimos - uma paráfrase

Sozinho até mesmo no momento derradeiro - o adeus não ecoou pelos túmulos. A ingratidão teve como companhia, quando lhe deitaram as pás da terra que lhe há de por fim a existência.

Esperas não pela calçada florida, pelos bosques tranqüilos e cheirando a verde; a decadência, o sofrimento, a derrota, essas sim deves esperar, pois o que mais deves querer de um mundo no qual se confunde a uma selva tal são as feras que aqui habitam?

Portanto fumas, acendes teu cigarro. Tomas este fósforo e aspiras esta fumaça já que o destino cruel te esperas, e nada tens a fazer. Subentende-se então que diante de feras tais, o que esperar de um beijo senão o antecedente de um escarro? O que esperar de uma mão, ora doce e benevolente, que afaga e acalenta, se não diferes da mesma mão que apedreja?

Se há um alguém que sente pela sua dor pena, apedrejas essa mão vil e dissimulada que agora te afagas; escarras nessa boca falsa que te dissimula um beijo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Desabafo de Quem Chora por um Sofrimento que Plantou

A solidão me esmaga a cada dia. É como se fosse um carrasco, e eu sendo uma escrava não consigo me libertar. Não que goste de sofrer; seja por comodismo, ou por saber quem eu sou e mais: saber que mereço. Plantamos para colhermos os frutos mais tarde, sejam eles doces e maduros ou amargos e podres. Pode ser que esteja catando minha colheita pelo solo estéril que se tornou minha vida, justamente pelas atitudes por mim cometidas.

Arrependimentos, remorso, palavras comuns em meu cotidiano. Ao olhar para trás vejo o passado feliz se contrastar com o presente então desgraçado. Das flores que ganhei agora só restam as pétalas murchas e secas; nem as lágrimas que chorei tenho o prazer de repetí-las - pois choraria as mesmas lágrimas novamente.

O amor é cego e também cruel. Fazer sofrer a pessoa que ama é das mais desumanas crueldades, o que relata o quão imprestável é a pessoa que o fez. O pranto derramado com tamanha dor, perante um espectador imóvel e indiferente; ainda que desmoronando por dentro toda a sua dor, encoberta por uma carcaça do metal mais duro e intransponível, metal egoísta e arrogante que esconde os reais sentimentos e fere o mais leal dos amantes. Metal que impede aproximações sinceras, repele os zelos dispensados por uma alma pura e cuidadosa, esta que jamais terá o prazer de encontrar outro exemplar.

Agora vejo as inverdades que criei, as conclusões contorcidas que tirei de atos do mais puro desprendimento, choro a dor do leite derramado. Quem disser que de nada adianta sofrer por um passado, então que venha arrancar-me a dor do peito que lateja dia e noite. Venha arrancar-me a vida que já não me vale de mais nada se não tenho a capacidade de fazer feliz àquele que só queria o meu bem; portanto não posso fazer nenhuma alma feliz neste mundo. Conformo-me em sofrer até que cale o choro de minha alma um dia, seja amanhã, depois enfim, seja para sempre.