terça-feira, 26 de agosto de 2008

Viagens psicodélicas de Marie - a tartaruga e as escadas

- Não estou com sono mãe! - grita a pequena Marie quando vê que é obrigada a dormir.
- Marie não comece com suas reclamações! Já está na hora de criança estar dormindo, quando for grande poderá decidir sobre seus horários - e fechou a porta. A mãe esquecera que Marie tinha medo de escuro, mas ela estava tão chateada de ter que dormir cedo que esqueceu também... só lembrou depois que sentiu alguém puxando sua coberta.
- Ahhhh! - berrou a menina - páre com isso, Mãaanhêeee!!! ninguém ouviu seu clamor. Num estalo de coragem, abre os olhos antes apertados de medo e vê o que está puxando sua coberta. Era uma tartaruga. Uma tartaruga puxando a coberta da menina, no meio da noite. Tartarugas não puxam cobertas. Pelo menos era isso que Marie pensava até então. Estava num misto de surpresa e medo, de alegria e pavor. Não tinha medo de tartarugas, mas quem a trouxe? Como escalou sua janela?
- Pare de pensar menina, está me deixando enjoada - disse a tartaruga.
- Você fala! Não, estou sonhando, só posso estar. Ahhhhh - beliscou-se para ver se estava sonhando - oh não! Você fala, você puxou minha coberta. O que você quer? De onde você veio, e o que tem nessa mochila? - a tartaruga trazia uma mochila parecida com aquelas que usam os alpinistas. Nada mais estranho que uma tartaruga falante carregando uma mochila. Marie decidiu chegar mais perto dela. Já que era inevitável a sua presença, pelo menos fosse agradável.
- Qual o seu nome, tartaruga? - perguntou a menina.
- Chamo-me Estela, e o seu menina pensandora? - a tartaruga se incomodava pelo fato de a menina estar sempre pensando, porém como sabia ela o que a menina pensava? Mistérios leitor, nada mais que isso.
- Meu nome é Marie. O seu nome é muito bonito - disse a menina para que a amizade fosse logo adiantada.
- Com certeza, melhor que Marie!
- Ah sua tartaruga atrevida! Eu te elogio e você me recebe a pedradas? Ainda incomoda meu sono puxando minha coberta. Vou jogá-la pela janela! - quando Marie foi para pegar Estela pelo casco, ela mais rápido que um foguete tirou de sua bolsa uma bolinha e arremçou na cabeça da menina. A bolinha estava cheia com um líquido azul florescente, e como mágica fez a menina desmaiar.
Marie abre os olhos, está sozinha sentada numa escada. Um pouco tonta ainda, não consegue perceber aonde está. Esfrega os olhos e tenta novamente olhar e leva um susto: está no meio do nada, não sabia se era o universo, outro planeta, se estava morta. O que havia no local eram muitas escadas que possivelmente levariam a caminhos diferentes e talvez tão confusos quanto as mesmas, pois se entrelaçavam, subia e desciam sem cerimônia, os degraus eram confusos, não obedeciam a nenhuma ordem. Aliás, nada ali obecia a ordem nenhuma.
- Tem alguém aí? - grita a menina num instante de pavor. Nada.
- Tem Alguém AÍIIIIIIIIII? - grita mais alto, porém com a mesma conclusão. Para não fugir ao costume Marie começa a chorar. Nada mais justo depois de ter sido mandada para um lugar no qual a única coisa que existe são escadas completamente confusas. Depois do pranto, Marie decide subir alguma dessas escadas, pois já que está presa ali então que fosse aproveitado.
- Agora resta saber por qual dessas subir... pensava a menina. Cada escada tinha uma cor, uma era azul, a outra vermelha. Tinha algumas que misturavam uma, duas e mais cores. Decidiu ir pela mais colorida.
- O caminho pode variar com a cor - é menina pode ser sim, e poder ser também que fizeste uma boa escolha. A escada que Marie escolheu por subir era enumerada. Começava no início, o um, e terminava no vinte e um. Não me perguntem o porque de terminar no vinte e um. E cada degrau era marcado por datas, anos para ser mais preciso. No degrau de número um era marcado pelo ano atual, e cada vez que os números cresciam os anos decresciam.
Marie subia lentamente apreciando as cores dos degraus, e chegando numa certa altura percebeu algo muito estranho porém interessante: a cada degrau ela ficava mais velha. Não era de uma maneira organizada, mas a idade passava conforme subia, e quando chegou no topo era já uma mulher. O ano marcado pelo degrau número 21 era 1970. Ao descer viu uma aglomeração de jovens, todos com suas barracas montadas. Era uma festa? Marie não sabia, mas tinha aparência de ser uma grande festa.
Sentou-se num lugar perto de uns jovens, e logo fez amizade. Ofereceram-lhe algo parecido com cigarro e Marie experimentou, claro. Adorou por sinal, e logo virou amiga de infância de todos eles. Estava de camisola, mas quando a noite chegou e ela ouviu alguém cantando sobre o fim - "this is the end (...)"- parecia ter entrado num transe, com aquelas palavras com um poder quase mágico e entorpecente, e de repente viu-se nua. Sim, a menina agora uma mulher estava nua em plena multidão, o que era mais que normal naquele lugar. Dentro de sua mente apareciam cores, imagens sem nexo, e a música era o combustível para essa alucinação. Arrastaram-na para dentro da barraca, onde acontecia algo nunca vivido pela "menina". Como nada sabia, deixou-se levar. Não sabia mais quem era quem, pois todos haviam se misturado. O corpo dela uniu-se ao de mais três, as línguas não sabia de quem era, as mãos se confundiam, os corpos num ataque frenético de prazer. A música agora era o que entorpecia e alimentava aquela orgia. Não se sabia a que horas acabaria, o tempo não importava.
O dia nasceu e Marie despertou. Estava em sua cama, dormindo em seu quarto. Estela olhava para a menina com um sorriso malicioso estampado na face, e antes que pudesse ser vista saiu pela janela - a tartaruga era de uma agilidade fenomenal. Marie viu Estela fugindo mas não pôde detê-la, porém deixou cair no chão a mesma bolinha azul, aliás outra pois aquela havia sido quebrada na cabeça da menina manchando o tapete, o que era a prova de que tudo não foi um sonho.
- Vou guardar isso - a menina sabia o porquê. Marie simplesmente mudara, não era mais a mesma menina de 10 anos de idade. Em seus olhos havia algo que se alguém soubesse decifrar saberia tudo - eu disse tudo.
Saiu do quarto, deu bom dia aos seus pais e tomou seu café, tudo da maneira mais natural possível. Seu pai ainda estava em casa, então a menina pediu que a mostrasse onde guardava aqueles discos que ouvia quando jovem. O pai ainda que exitante disse onde ficava. Marie mais que depressa foi vasculhar as velharias de seu pai. Desempoeirou a vitrola e os vinis, sentou-se numa poltrona que havia no porão e da rua se ouvia o refrão: "This is the end (...)".

2 comentários:

Corvo disse...

Pensou em criar livros e livros de histórias? já tem um leitor ancioso para mais contos^^

Corvo disse...

por acaso a música não seria Endorama, seria? estou curioso^^

beijos