sábado, 30 de janeiro de 2010

Anethe está cansada

Realmente estou cansada. Cansada de pensar que posso mudar meu destino.
Sou Anethe, filha de uma prostituta francesa que herdou da mãe esta profissão que envergonha a sociedade. Porém, a "sociedade" não tem nada a ver com isso.

Sou sim uma prostituta.

Sou sim alguém fora do padrão da sociedade.

E mesmo assim, não mudarei.

Sou uma prostituta de idéias.

sábado, 17 de outubro de 2009

Um Encontro às 18:00

- Marcamos um encontro às 18:00 - diz a garota eufórica. Ela nunca havia sido convidada por nenhum rapaz para sair, mesmo porque sua mãe era muito rigorosa. Mas agora as coisas mudaram: está morando sozinha, estudando letras em Paris, já não vive mais naquele prostíbulo.

- Meu Deus, o que vou vestir! Não posso parecer muito vulgar, mas também preciso estar bonita - ela não precisava de muito para estar bonita. Suas roupas não eram muito de acordo com a moralidade das francesas da época - herança da mãe. Não queria desperdiçar essa oportunidade de sair com o rapaz que sempre sonhou; pensava que sempre carregaria o estigma da profissão da mãe. A "filha da prostituta". Já não suportava mais.

- Estou atrada, preciso ir . Sai correndo a jovem moça ao encontro de seu amado. Paris estava movimentada, era um dia chuvoso e as pessoas saíam do trabalho muito apressadas.

- Cuidado Moça!!! - passa um motorista velozmente por Marie, que quase cai na sargeta, podendo estragar seu figurino. Nada podia dar errado, estava muito feliz. A primeira vez que ficava feliz após a morte da mãe. Agora podia até sonhar com um futuro de verdade.

- Jean! Aqui! - acena para ele que está do outro lado da rua. Mas não a vê.

- Jean querido! - insiste, mas ainda ele não percebe. Ele a olha rapidamente, enquanto ao seu encontro vem uma mulher. Muito bem vestida, que agarra em seu braço e entra no carro com ele. A chuva começa a aumentar, e Anethe fica parada, estática, atordoada.

- Como pôde, Jean? - começa a se perguntar, sentada na sargeta, com a chuva molhando seu rosto que agora já não brilha. Ela finalmente soube que jamais poderia ser uma mulher sem mais alcunhas. Estava marcada para sempre como "prostituta".

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Só um menino...

Estava sozinha, perdida em meus pensamentos, devaneando sobre acontecimentos hipotéticos, ainda que eu pudesse torná-los reais. Às vezes nos pegamos imaginando diálogos, ensaiando frases, gestos. Tudo muito possível, mas que não temos coragem de tirar do papel.

Estava sozinha, mas ao mesmo tempo rodeada de imagens, ouvindo conversas e gargalhadas. Olho para a rua: o movimento. Carros, motos, pessoas. Algumas olham para mim com um ar de espanto. Talvez seja a maquiagem, resumida em três tons: preto, branco e vermelho. A tinta preta dos olhos, o branco pálido da face e o bom e velho batom vermelho, que fazia um destaque quase reluzente. Ou fosse a roupa. As pessoas não estão acostumadas com preto e marrom as onze horas da manhã. Porém pode ser justamente esse conjunto, preto e marrom no corpo, preto e branco com um detalhe vermelho, no rosto, que fizesse aquele menino insignificante olhar, não com aquele espanto habitual, mas com um espanto diferente.

Era um olhar que me petrificou, um olhar gostoso de sentir, ainda que fosse de um menino. Aquelas sobrancelhas grossas, os cílios fartos e os olhos negros, amendoados, escondidos em um rosto de menino travesso. Passou por mim, como qualquer um dos transeuntes, mas era como se deixasse ali parado, como uma estátua, aqueles olhos de menino que descobriu ser homem, mas estava preso a um corpo que não era dele. Seus olhos eram devoradores, contrastando com sua meninice de andar. Foi então que eu senti nascer em mim, como um despertar de algo que adormecera pela falta de uso, a minha feminilidade. Era preciso que esses olhos intensos de menino passassem por mim, percorressem meu corpo, para que a mulher que há em mim nascesse. Eu descobri em sua meninice a mulher que dormia em mim.

domingo, 26 de abril de 2009

Num Cabaret, a despedida.

- Boa noite rapazes! - grita Anethe ao entrar pelo salão, desfilando com seu cigarro e uma taça de champagne - Vamos viver intensamente esta noite, pois não sabemos se será a última - e beija lentamente um rapaz que estava passando por ela. Todos a olham passar, está completamente bêbada, mas não deixa transparecer e anda com classe, tal qual uma lady. Na verdade ela é, uma lady do Cabaret mais famoso de Paris, a qual todos querem provar.

- Hoje é a noite da despedida, meus amores! - ninguém entende a razão da tal despedida. Todos estranham a expressão 'despedida'. Mas Anethe continua seu discurso, com mais entusiasmo.

- Hoje temos que aproveitar, pois a vida é breve e mal sabemos se amanhã, meu bem, acordaremos vivos para contar essa história. Mal sabemos se não morreremos hoje mesmo, portanto vivam, bebam e possuam quantas mulheres conseguirem dar conta esta noite - e solta uma gargalhada que faz todos se assustarem.

- Esta noite é minha, é a minha despedida! Jean, querido, toque este piano como nunca tocou em sua vida; Marie, trate cada um desses rapazes como se fossem "seus filhos"!

- Claro Anethe, serei a mãe mais atenciosa de todos aqui! - gargalhadas. Então, Anethe segue em direção ao seu quarto, com uma garrafa de champagne e segurando pela gravata o jovem Albert, o escolhido para viver a noite de amor mais intensa de sua vida. Lençóis de cetim vermelho, rendas e cinta-liga, cigarros, taças, beijos, línguas, gemidos de êxtase. Depois a exaustão, o sentimento de satisfação. Anethe vira para Albert e diz, como uma ordem.

- Agora saia. Deixe-me em paz.

- Mas Anethe, querida, eu gostaria de...

- Não gostaria de nada. Saia já do meu quarto! - abriu a porta e jogou suas roupas no corredor. O pobre rapaz não sabia o que fazer. Decidiu esperar até que ela se acalmasse, para então conversarem. Queria aquela mulher, do jeito que fosse, prostituta ou não. Queria tê-la para sempre, e Anethe sabia disso. Mas para ela não existia nenhum "para sempre".

Em seu quarto, Anethe olhava para os lençóis revirados enquanto fumava um cigarro. Olhou pela janela, a lua a olhava também.

- Minha despedida... - estava com um olhar triste. Enquanto no salão as pessoas bebiam e se divertiam como nunca o fizeram antes, Anethe pegava seu punhal e cortava seus pulsos. Mal se via o sangue nos lençóis. Ela estava linda. A lua banhava seu leito de morte; era a única testemunha do suicídio. Albert resolveu ir ao quarto de Anethe. Não estava trancado.

- Oh Anethe, o que fizestes! - chorava o pobre apaixonado sobre o corpo da amada já gelado e rígido. Ela avisara, era sua despedida.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O tempo

Tempo é uma palavra que infelizmente não está participando do meu vocabulário freqüentemente. Não tenho mais tempo para escrever, para ficar sozinha, muito menos tempo para ficar em paz. Existem pessoas que contabilizam meu tempo, que o possuem - ou pelo menos acham que o possuem - e que fazem o que bem entendem com ele. Porém, como o nosso mundo dá voltas, e essas voltas mudam completamente as circunstâncias, quaisquer que sejam elas.

Espero muito ter o meu tempo, ser dona do meu tempo, e assim manipular minha própria vida, sem a interferência de terceiros.

Peço desculpas a todos os visitantes, que tão carinhosamente postam os comentários em meu blog pretencioso, pois não tenho respondido.

E peço também que, ainda que não atualize periodicamente, visitem meus espaço.

Muito obrigada, e até breve.

Dias melhores virão.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Moralismo Barato - de volta a 1984

Bestas moralistas que atrapalham o progresso de uma mente sonhadora e cheia de planos por caprichos egoístas. Mentiras contadas até a exaustão, e tornam-se verdades para alimentar a sensação de posse que pensam exercer sobre alguém.

Moralismo barato e completamente falido, 'faça o que digo', quando o que fazem contradiz todo o discurso. Então, quando cai por terra tudo que foi dito, inventam uma nova verdade para ser posta em vigência, até que - sussecivamente - a mesma verdade torna-se vencida.

Manipulam como se fossem marionetes a vida de uma pessoa até destruirem suas esperanças - o verdadeiro intuito, matar qualquer possibilidade de progresso. O progresso é uma ameaça, a mente é uma ameaça que felizmente não poderá ser violada. Portanto, até onde houver o pensamento, até onde for possível pensar as tentativas castradoras são completamente inúteis.

Tentem imbecis, mas não conseguirão matar o pensamento, matar a consciência. O arrependimento será tardio quando perderem a posse e o mais importante: o respeito.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mercenários

As mãos trêmulas, os olhos vermelhos se quer conseguem disfarçar sua ansiedade. Se pudessem venderiam seus rins, seus pulmões, carne, nervos; seus filhos. Nada tem valor comparado ao vil metal!

A alma tem um preço, porém simbólico e místico; se houvesse maneira de vendê-la o teriam feito desde o príncipio de suas vidas miseráveis. O que importa mais que o capital? O que importa mais que o cheiro podre dessa matéria sem dono, volúvel e infiel, que corrompe até o mais gentil e destrói até a mais firme convicção?

Esses mercenários vadios e imundos, que vendem até mesmo a própria filha em troca de um genro que ganha mais que toda a renda de sua família junta, somente pela palavra insistente e cretina chamada "segurança". Qual segurança, seus mercenários? Segurança de que a filha usada terá uma casa confortável, empregados e uma vida vazia e fútil, pois havia jogado todo o seu futuro no lixo em prol de uma causa que pensava ser sua, que um dia cogitou a possibilidade de estar correta e que um dia achou que sua vida seria resumida em jantares elitizados com um grupo de pessoas completamente vazias, com seus bolsos transbordando de dinheiro, e suas bocas transbordando de fezes.

Mercenários cruéis, somente o universo que gira em torno de seus umbigos importa, pois passam por cima de qualquer um para atingirem seus objetivos. Não têm capacidade de lutar pelos seus idéais e querem transformar a vida daqueles que lhes estão próximos num verdadeiro inferno somente para satisfazer os seus desejos vigaristas. Penso que a morte seria uma boa alternativa, porém são tão infames que se quer a terra lhes absorvirá as entranhas, se quer os vermes lhes roerão a carne.