quinta-feira, 31 de julho de 2008

Alma velha, corpo jovem.

Nascida a pouco mais de 20 anos atrás, sinto que já cumpri minha missão. Carrego um fardo em minhas costas que demonstra o quão velha estou, mesmo tendo o frescor da primavera em meu rosto. Não peço que a morte venha rápido, pois penso que não tardará. Peço somente um pouco mais de tempo, este que me é curto e breve.

Viver, como é bom viver... temo não ter tempo suficiente para isso. Precocemente amadurecida, tomei atitudes das quais poderia adiar, adiei o papel que a própria natureza ia fazer com calma e tranqüilidade pelo simples fato de temer não ter mais tempo. A falta de tempo me persegue. A sencação de vida breve me apavora, pois sinto a idade - ainda que pouca - pesar.

Poderia ter mais calma, mas a ansiedade é constante. Deveria não me preocupar com assuntos que ainda não cabiam a mim em certos momentos, poderia ter aproveitado melhor a vida no seu tempo. Mas o tempo me falta, o tempo me é breve. Preciso viver, o mais rápido possível, pois sinto que não posso desperdiçar.

Tento viver intensamente, ainda que me perca em meus devaneios pensando em minha morte; não quero piedade, nem fico imersa na eterna lamentação, mas a vida me cobra rapidez. Vivo no limite de minhas possibilidades, quero sempre mais e mais rápido. Temo sim pela minha hora, mas não posso esquecer de que preciso fazer valer a pena. E estou tentando fazer.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Versos Íntimos - uma paráfrase

Sozinho até mesmo no momento derradeiro - o adeus não ecoou pelos túmulos. A ingratidão teve como companhia, quando lhe deitaram as pás da terra que lhe há de por fim a existência.

Esperas não pela calçada florida, pelos bosques tranqüilos e cheirando a verde; a decadência, o sofrimento, a derrota, essas sim deves esperar, pois o que mais deves querer de um mundo no qual se confunde a uma selva tal são as feras que aqui habitam?

Portanto fumas, acendes teu cigarro. Tomas este fósforo e aspiras esta fumaça já que o destino cruel te esperas, e nada tens a fazer. Subentende-se então que diante de feras tais, o que esperar de um beijo senão o antecedente de um escarro? O que esperar de uma mão, ora doce e benevolente, que afaga e acalenta, se não diferes da mesma mão que apedreja?

Se há um alguém que sente pela sua dor pena, apedrejas essa mão vil e dissimulada que agora te afagas; escarras nessa boca falsa que te dissimula um beijo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Desabafo de Quem Chora por um Sofrimento que Plantou

A solidão me esmaga a cada dia. É como se fosse um carrasco, e eu sendo uma escrava não consigo me libertar. Não que goste de sofrer; seja por comodismo, ou por saber quem eu sou e mais: saber que mereço. Plantamos para colhermos os frutos mais tarde, sejam eles doces e maduros ou amargos e podres. Pode ser que esteja catando minha colheita pelo solo estéril que se tornou minha vida, justamente pelas atitudes por mim cometidas.

Arrependimentos, remorso, palavras comuns em meu cotidiano. Ao olhar para trás vejo o passado feliz se contrastar com o presente então desgraçado. Das flores que ganhei agora só restam as pétalas murchas e secas; nem as lágrimas que chorei tenho o prazer de repetí-las - pois choraria as mesmas lágrimas novamente.

O amor é cego e também cruel. Fazer sofrer a pessoa que ama é das mais desumanas crueldades, o que relata o quão imprestável é a pessoa que o fez. O pranto derramado com tamanha dor, perante um espectador imóvel e indiferente; ainda que desmoronando por dentro toda a sua dor, encoberta por uma carcaça do metal mais duro e intransponível, metal egoísta e arrogante que esconde os reais sentimentos e fere o mais leal dos amantes. Metal que impede aproximações sinceras, repele os zelos dispensados por uma alma pura e cuidadosa, esta que jamais terá o prazer de encontrar outro exemplar.

Agora vejo as inverdades que criei, as conclusões contorcidas que tirei de atos do mais puro desprendimento, choro a dor do leite derramado. Quem disser que de nada adianta sofrer por um passado, então que venha arrancar-me a dor do peito que lateja dia e noite. Venha arrancar-me a vida que já não me vale de mais nada se não tenho a capacidade de fazer feliz àquele que só queria o meu bem; portanto não posso fazer nenhuma alma feliz neste mundo. Conformo-me em sofrer até que cale o choro de minha alma um dia, seja amanhã, depois enfim, seja para sempre.