quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vícios

Acordo, olho pela janela e vejo sol, brilhando e contaminando tudo com sua energia irritantemente alegre. O dia começa lá fora, as pessoas com suas vidinhas medíocres, descontentes com seus empregos e tentando manter a ordem aparente. E eu, com uma dor de cabeça imensa e o mau-humor ao meu lado. Gostaria de dormir até as dezoito horas, acordar e fumar um cigarro, tomar um banho, colocar a roupa mais decadente e ir ao primeiro bar contribuir para minha insanidade mental. Porém não posso. Tenho que levantar, dar bom dia aos meus pais, tomar um banho - graças à Deus - colocar uma roupinha bonitinha e esconder minha verdadeira identidade por causa de um salário mínimo. Estou contente com isso... preciso estar.

À noite, vou "estudar". Quebro a primeira esquina e vou ao bar, beber, fumar e encontrar as pessoas que realmente importam em minha vida. Conversas entorpecidas por algumas cervejas, os cigarros acesos, as risadas... depois o vinho. Mas não, estou assistindo a uma aula de não sei o quê, com um professor completamente sem vontade de ensinar e alunos completamente sem vontade de aprender. Onde estou afinal? Físicamente estou num carro ébrio como os próprios passageiros, discutindo pessimismos e decadências, bebendo de um vinho que não sei se quer a sua marca - se é que isso importa - fumando os últimos cigarros e desejando que pudesse pelo menos morrer para não ter que voltar à realidade. Porém, durante todo esse percurso, minha mente não pára de contar os minutos para chegar num horário em que dê tempo de lavar as mãos parta tirar o cheiro de cigarro, passar o batom novamente e melhorar o hálito de vinho e cigarro com um halls.

Tudo deu certo, voltei para casa. Minha cara de sono misturada com embriaguez denuncia até a um cachorro que não houve aula fezes nenhuma, porém não aos meus pais. Não sei se sou uma pessoa muito fria por não sentir remorso pelas mentiras, mas quem não mente? Gostaria que não precisasse atuar, mas não há outra maneira. O sono vem logo e os remorsos se vão substituídos por sonhos dos quais não me recordo. No dia seguinte levanto com a mesma sensação, de olhar pela janela e ver o dia sorrir, quando na verdade gostaria de estar bebendo e chorando.

2 comentários:

Corvo disse...

As vezes eu durmo, enquanto brigam comigo, enquanto falam e falam bla bla bla em meu ouvido, permaneço na cama como um vampiro que foge da luz, sou eu aquele irresponsável que não cumpre com as obrigações para fugir nem que for por um par de horas do mundo real, sou aquele que estás quase a perder um emprego, e largar uma faculdade por culpa de algumas horas de sucego.... sou eu aquele que se prejudica para tentar manter uma sanidade aparente...

reproduziu meus dias vazios...

. disse...

falou com a alma? senti mta sinceridade em suas palavras... Gostei das coisas que tu escreve, mto bom. da uma passada la no meu bauzin tb

http://www.baufragmentado.blogspot.com/

abraço